Depois das aventuras de sábado, descritas abaixo, fomos logo cedo ver um jogo na Rua Javari, que agora está só a alguns minutos a pé da minha casa.
Ah, como é diferente você acordar cedo e ver um monte de jovens, senhores, mulheres saindo de suas casas como numa sincronia orquestral, juntos pelas ruas da Av. Paes de Barros.
É diferente, é sublime, é tradicional! No meio do caminho se encontram mais e mais juventinos indo ao mesmo destino. As ruas são pequenas, as pessoas são as mesmas e se dão ao luxo de se cumprimentar antes, durante e após o jogo. É um clima familiar, um clima distante dos grandes centros urbanos e, por quê não, dos grandes times e estádios.
Vou dizer agora algo que deveria se repetir durante nossas vidas: Quem nunca foi na Rua Javari que vá, nem que seja a última coisa em vida que se faça. É se sentir nas histórias contadas pelos nossos avós. É como se o futebol parasse no tempo.
Só pra se ter uma idéia o estádio não tem refletores, os jogos têm que ser em horários diurnos com forte luz solar. Me arrisco a dizer que 8 em cada 10 juventinos não queira mudar isso.
Pré-jogo
Minha jornada começa as 10 da manhã, quando saímos de casa ao encontro do estádio que me recuso a lembrar o nome e sempre será na minha mente Rua Javari.
Ás 10:50 adentramos às arquibancadas, e só para vocês têm uma idéia não há divisões de setores, o ingresso que paga a arquibancada, paga o setor dos alambrados (recomendo), a parte coberta, ala das torcidas organizadas, sentadas, em pé...
Logo de cara se tem uma noção de como o bandeirinha sofre nas bocas da torcida. É algo tão próximo que podemos dar o luxo de dizer pessoalmente a ele que seu cadarço está desamarrado. É claro que poucos dizem isso num jogo de futebol - coitada da pobre senhora sua mãe, meu amigo de preto.
O jogo era Juventus e Barueri, e não é que o destino me pregou algumas peças. Do lado do Barueri não jogou suspenso o Amaral, que estava na estádio e vejam só, passeou no meio da torcida do Juventus bem do meu lado. Onde mais você veria isso? Já do lado do Juventus o cambalhota Vampeta, também suspenso, não jogou e ficou na arquibancada sentado todo o jogo.
E não pára por aí.
Um pouco antes do jogo começar olho pro lado e vejo um ilustre cidadão brasileiro, que tanto nos animou em suas transmissões pelo rádio. Tive a honra de ver, falar e cumprimentar o radialista Osmar Santos, que se destaca pela figura serena, educada, alegre e sensata. Tais qualidades que, o AVC não teve a audácia de tira-las.
Foi um momento único, sem palavras que possam explicar o grande ser humano que apertou as minhas mão e disse em um tom de voz cansado: vim ver o Juventus ganhar.
Força Osmar, o povo brasileiro está com você.
E começa a peleja...
O jogo começou com uma pressão do Juventus desgraçada, o goleiro do Barueri é bom demais. Ele salvou umas 5 bolas difíceis do ataque juventino. E por falar nessa figura, é sensacional o xingamento, no mínimo engraçado (até o goleiro Rener do Barueri não resistiu e foi visto várias vezes rindo) da torcida do time da Mooca ao arqueiro. Toda hora que ele iria bater um tiro de meta a torcida começava um ôôôôôôôôôôôôôôôôôôôôô... e na eminência do toque de sua chuteira à bola se terminava a frase com um FILHA DA PUTA!
Foram inúmeras vezes durante o jogo. Dignas de se lembrar e contar para os nosso filhos e netos: filho, sabe o Juventus, então seu pai quando foi à Rua Javari era de costume da época...
O jogo continuou, mas por falar a verdade menos importava, pois já adiantando aqui que terminou em 0x0. Da partida se salva algumas coisas peculiares. O pessoal, me incluo também, infernizou a vida do bandeira. Era para o distinto camarada "Ana Paula você está gorda, cheio de estrias, com celulite", "Bandeira você não consegue acompanhar a bola", "Bandeira ajuda aí, meu, que a macarronada é por minha conta", "Bandeira você tá cego ou com sono?"...
Ofensas
Obs.: uma coisa que poucos sabem, mas o jogo de futebol profissional é tão falado, gritado, xingado quanto qualquer jogo de pelada do nosso fim de semana de cada dia.
E no meio desses gritos se misturaram os meus contra o Alberto e Ávalos ex-Santos. Eram "refugos", "jogador de time pequeno", "tosco", "fim de carreira", "refugo" para todos os lados.
Mas o melhor estava por vir, no segundo tempo o Márcio Careca, lateral do Barueri veio pro meu lado do alambrado, e com ele veio o fim da minha voz com tantos "jogador medíocre", "ridículo", "filho da puta", "jogador de time pequeno", "jogador de Barueri e Paraná", "fim de carreira", "jogador de fim de semana", "meu pé esquerdo não vale seu passe" e por aí foi. Fiquei sem voz de tanto xingar o infeliz, mas, o barulho foi tanto que num lance do meu lado eu o xinguei tão alto que não teve como fingir que não viu e me olhou com uma cara, que dei risada e respondi: "não olha torto não, que o cara do Juventus já bateu o lateral e já vai cruzar". Ninguém do alambrado resistiu e caiu na gargalhada, o cara ficou me encarando e quase levou o gol, só faltou o gol sair e vê na tv ele fora do lance me encarando.
Até um pseudo amigo de alambrado que fiz na hora, senhor italiano, de muita idade e torcida juventina cascou o bico pelo ocorrido e me chamou pra voltar mais vezes. eu o olhei e disse com toda sinceridade: será um enorme prazer.
Bola pro mato e fim de jogo
O estádio da Rua Javari é pequeno, acolhedor daqueles que se encontra na várzea. E é por isso que qualquer bola por cima do gol vai parar na vizinha. Só não sei se ela fura com faca e tesoura igual no nosso futebolzinho de rua da nossa infância. Mas, é fantástico olhar o pessoal vendo o jogo da sacada, laje, janela de suas casas. Isso é muito pessoal, é como se o futebol fosse íntimo do nosso dia-a-dia. E numa mistura de pastelão com essa relação pessoal, escuto do alto da arquibancada enquanto o juiz dava intervalo de dois minutos de descano, nos 20 minutos de jogo do segundo tempo um grito que ficará marcado pra sempre em minha memória: "Ei juiz, não pára não que o macarrão está esfriando lá em casa".
Quem tirará da minha cabeça as gargalhadas de quase 3.000 pessoas num momento tão peculiar do futebol.
Ao fim da peleja fui correndo para ver se conseguia xingar o Vampeta, já que ele ficou isolado perto de uns seguranças monstros.
Fui até ofegante e gritei em bom som: "Vampeta, (ele vira o rosto pra mim) o Marcão mandou lembranças". Ele, desconcertado, virou o rosto e mandou um sinal de jóia com o polegar, que traduzindo seria mais ou menos um "beleza, campeão. Mas que filho da puta, esse moleque"
E, assim terminei minha jornada na Rua Javari, mas que terá encontro marcado em outras ocasiões.
Jardim Leonor
De lá fomos pro Morumbi ver o clássico San-São. Os moleques queriam conhecer ou rever o estádio, e apesar de ser um clássico, num horário nobre, o time na terceira colocação a diretoria colocou um pouco mais de 23 mil ingressos a venda e colocou no jogo um pouco menos de 18 mil. Exemplo de torcida de moda. Aliás, me refereria mais como simpatizantes e menos como torcedores de verdade.
O jogo foi todo do SPFC nos primeiros 15 minutos e até achamos que elas iriam golear. Esse time de Leão Tarja Preta foi uma gangorra que levava ao céu e ao inferno durante todo o jogo. Abriu o marcador e se perdeu tanto, ao ponto de levar a virada. Mas empatou e se não fosse a incompetência do Kléber Pereira teria até goleado o time do Jardim Leonor.
Mas levou um gol que castigou as falhas do Fábio patada voadora Costa e do KP.
Bem feito!
Já no time rosa do muro, Adriano é centroavante perneta, o Rick quis mostrar sua hombridade (?) e quase foi expulso, o RC é um forte candidato a virar padre, frei, pastor ou qualquer entidade de qualquer igreja de porta de garagem, já que não pode ver um lance cara-a-cara que adora se ajoelhar, a torcida como sempre calada - já a organizada, que em todas as vezes que fui sempre deixou a desejar tentou empurrar o time -, Adriano segundo o MAC foi expulso por tentar sair de perto do jogador do Santos, mas não é o que diz a súmula do jogo*.
Ganharam na incompetência santista de Tabata**, KP e Fábio Costa.
O tour desse fim de semana, acabou. Mas, muitos ainda virão e desta vez será nos dias 23 e 24 e no jogo de reencontro do Palmeiras no Palestra Itália, com os bancos de reservas, gramado e vestiários novinhos em folha.
Sinto enormes saudades da nossa casa, torcida palmeirense.
Palmeiras e Palestra Itália nada é mais lindo!
*Expulsei-o diretamente por proferir as seguintes palavras p/ mim: "vai tomar no cú", após em seu entendimento não ter sido assinalada uma suposta falta em favor de sua equipe. Após ser expulso o mesmo ainda proferiu as seguintes palavras: "Filho da puta, safado, você não apita nada", em seguida foi conduzido por seus companheiros e deixou o campo de jogo.
**Expulso por: após ser informado viz rádio pelo ass. nº 01, Sr. Emerson Augusto de Carvalho, que o jogador nº10 Sr. Adriano Leite Riberiro (citado ao lado), desferiu uma cabeçada no jogador de nº 05 Sr. Domingos Nascimento dos Santos Filho da equipe do Santos FC, atingindo-o na testa, fora da disputa da bola. Informo que o jogador atingido não necessitou de atendimento médico, prosseguindo na partida normalmente.