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Descanso e um achado





Fugi do feriado paulistano e fui recarregar as energias no interior paulista, mais precisamente em Brotas, para tentar esquecer as coisas de internet, blog, futebol, Palmeiras, STJD, Globo, Imprensinha, etc, e descansar um poquinho.

E como vocês podem ler, eu não pude me conter hehehehee. O amor e a saudade pelo Verdão falaram mais alto. Segunda voltarei em vento e prosa para a decisão de terça-feira contra as putinhas do Nordeste.

Para o desfrute de vocês até lá, fiquem com esse brilhante texto/depoimento do Dinho Gualberto, sobre uma passagem de sua infância em 1986, relembrada pelo brilhante texto do Pedro no post anterior.

Até mais e que venha o gatinho do sertão na terça.


Palmeiras minha vida é você. Mesmo descansando, longe de casa, de tudo e de todos.

Ao começar a ler o seu texto, de cara me lembrei. Até pensei que você não falasse do jogo de ontem, pensei que falasse de qualquer outro lá pra trás. Vivi essa cena quando tinha 11 anos.

Era o segundo jogo da semifinal do Paulistão 86, naquela época valia como à Libertadores. Era uma quarta feira como a de ontem. Aos 40 minutos do segundo tempo, meu pai levantou se de junto da mesa da cozinha e foi dormir. Eu peguei o radio e fui pro meu quarto.

Naquela época não tinha pay-per-view, tv a cabo. As Tvs abertas não passavam nem o jogo das finais para a capital, mostravam só para o interior, a capital ficava com um filminho qualquer. Até por isso, qualquer clássico levava 100 mil pessoas, fácil. Mas, para ir também era uma luta. O jogos eram 21:30 e o metro, quando tinha próximo a estádio, fechava as dez da noite. Ônibus paravam pontualmente a meia noite.

O Verdão tinha que ganhar de 1x0 para levar o jogo pra prorrogação, afinal, tinha sido assaltado pelo juiz no primeiro jogo. Num dos episódios mais vergonhosos da história do Paulistão até hoje. Para piorar o nosso maior craque, Jorginho (único ídolo, ao lado Marcos, que tenho na vida), tava com diarréia. Chegou a deixar o Palmeiras com 10 em campo durante a partida para ir ao banheiro, sem que ninguém entendesse nada.

A fila doía nas minhas costas. Todo dia ir pra escola era terrível, desde que saia de casa até a porta da sala e vice-versa, era um sarro só. Então, hoje, por esses fatos, nem estranho a atitude do meu pai, ir dormir antes do jogo acabar. Afinal, no outro dia tinha que trabalhar.

No meu quarto escuro, o mesmo silêncio. Lembro como se fosse agora. Chorava abraçado a uma toalha de banho branca, que saudade daquela toalha, era nela que eu me agarrava e tampava meu rosto a cada derrota.

Acho que imaginava o que ia passar no outro dia.

De repente, a voz do Osmar Santos estoura no radio. Uma pena não conhecer o Silvério naquela época. Eu meio que atordoado pela dor e pelas lagrimas tento achar o botão do rádio para aumentar o volume. “De quem será o gol?” O grito era interminável, meu coração palpitava, eu tremia, sim não é mentira, tremia.
De repente só ouço a vinheta (será que ela ainda existe?):
Lá lá lá lá lá lá lá la lá Palmeiras!!!

Ao ouvir os primeiros 'lalás', irrompi pelo meu quarto, minha irmã tinha uns 2 anos, acordou assustada. Afinal, só me viu correr sem gritar.
Atravessei o corredor e dei com o joelho na porta do quarto dos meus pais, "arrebentando tudo" porta à dentro. Meu pai já estava deitado, a luz apagada, minha mãe dormindo. Ainda bem, se é que me entendem.

Só lá fui soltar a minha voz:

Gol do Mirandinha!!! Gol do Mirandinha!!!

Abracei meu pai, minha mãe acordou assustada sem entender nada. E eu chorava que nem louco, meu pai me levou pro quarto e fomos ouvir o resto do jogo. Cara, acho que chorei mais agora lembrado daquele dia, ao ler seu texto, do que naquele dia.

O resultado de tudo a gente já sabe.

Lendo que você escreveu, e o que já se passou comigo, acho que só agora aos 34 anos, realmente entendi o que é ser palmeirense. Vou me ater aos times que tem torcida e não fãs.

Assim como, o Corinthiano, Flamenguista, Vascaíno, Gremista, nós PALMEIRENSES temos a nossa característica principal. Aquela que nos identifica, como um código genético, como um PALESTRINO.

Não sei se já perceberam, mas raramente falamos ou contamos histórias de jogos de títulos. Geralmente o que fica, pra nós, e a “construção” deles (títulos). Para um palmeirense não ficam as histórias de finais perfeitas, goleadas memoráveis, ou vitórias com viradas absurdas.

A raça, aquele acreditar até o último minuto, também parece não importar para nós, eles são importantes, mas não marcam nosso gene. Afinal, exigente como somos, e nossa marca acreditar desde o primeiro minuto, não só no ultimo.

Para o Palestrino não importam as partidas que ficam na memória. Para o Palmeirense valem aquelas vitórias que ficam no coração. E, essas vitórias são escritas com paixão, com amor, com carinho. Percebam, os jogos que importam para um palmeirense são aqueles que nos unem. Que estão simbolizadas no abraço que você, e eu, demos nos nossos pais, no momento mágico de mais um gol feito com a camisa verde. Realmente isso tudo nos torna bem diferentes do resto. Agora entendi.

Desculpe, se parece que quero aparece mais que você, mais que seu memorável texto, não foi essa intenção. Até porque o blog é seu, e mantê-lo ativo não deve ser fácil. Mas é que quando comecei a ler o seu texto, lembrei desse jogo e escrevendo esse comentário pra ti descobri o que é ser palmeirense. Antes tarde do que nunca rs.
Realmente isso tudo nos torna bem diferente do resto. Agora entendi.

Agradeço realmente por ter achado seu blog, através de um link do Cruz de Savóia. Você salvou meu fim de semana. Apesar da vitória ontem, hoje tava meio chateado com uns problemas. Problemas da vida.

O seu texto, me fez lembrar que eu já tive dias memoráveis, dias que fazem o dia de hoje ser o alicerce para dias como o de ontem. Pois quando eu pular, como eu pulei ontem na hora do gol, sei que a “casa” vai estar bem firme. Obrigado mesmo, e bom fim de semana.

Dinho Gualberto

2 comentários:

Sandro Cabral disse...

Puta que pariu. Lembro como se fosse hoje. Também com 11 anos, já preparava para ouvir no dia seguinte na escola a indefectível troça: "hoje é feriado. Dias de porcos tristes". Porra, como doía. Quando Jorginho saiu para cagar, pensei: que merda, mais isso.
Do alto de minha beliche, esmurrei o teto com o gol de mirandinha e fiz a promessa de ir a todas as missas daquele mês se o Palmeiras se classificasse (eu fazia primeira comunhão à época e sempre dava um migué na missa das crianças das 9h). O gol de Eder foi lindo. Do rádio, também na voz de Osmar Sanros, parecia que tinhamos ganhado a copa do mundo. Certamente foi a maior sensação que senti em minha vida de palestrino. Talvez por ter sido a primeira...

Tenho uma outra passagem desse tipo. Novembro de 1992, meu último ano em SP. Palmeiras e Bragantino num Palestra submerso. À época conhecido como nossa asa negra, não ganhavaos nem fudendo daqueles caras. Final do segundo tempo, gol das piscinas: Bola na área e cabeçada mortal de Cuca: xô Asa Negra, esse ano é nosso! Tal qual 86, não foi. Perdemos na final: mas que a sensação foi boa, ah!, isso foi. Ir embora de alma lavada.
Como é bom ser palmeirense!

Forte abraço,
Sandro - Salvador -Ba

Anônimo disse...

necessario verificar:)