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Uma no cravo...





Carta aberta ao Juca Kfouri
Por THALLES GOMES

Sabe o que eu mais gosto no futebol, Juca?

Do nome dos jogadores.

Dos goleiros, o que mais gosto é Vermelho, aquele negro monumental com seu bigode irretocável que antes de todo jogo chutava as duas traves com tanta força que fazia tremer a trave do adversário.

Tem também o Pantera e suas pontes incríveis.

O Índio e sua cara de poucos amigos, um legítimo descendente Caeté.

E se o adversário tinha um xerife na zaga, o meu tinha o Major.

Fazendo dupla com ele, o gigante Ben-Hur.

E pra acalmar o ânimo dessas duas feras, só o pulso firme do Rosas.

Do meio para frente então, nem se fala.

Numa das pontas, o Canhoteiro e seus chutes fulminantes.

Na outra, o endiabrado Cão. Isso mesmo, Cão. O alegre e brincalhão Cão.

Se o desespero batesse, a torcida chamava pelo Jerônimo.

E contra a manha do Catanha, o faro de gol do Inha.

Pra acabar com qualquer retranca, nosso arma é o Milton Tanque.

Como assim, Juca?

Você nunca ouviu falar nesses jogadores? Pois posso lhe confirmar que todos eles existiram. Alguns deles estão inclusive em atividade.

E olhe que eu nem falei do melhor de todos. Nosso craque rebelde. Que carrega no nome a sina de sua terra.

Canaviera.

Canavieira artilheiro do estadual de 1970.

Canavieira que balançou a rede do todo poderoso Santos do Rei Pelé no Brasileiro de 1972.

Canavieira que nasceu no segundo menor estado do Brasil, com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e com a segunda maior produção de cana-de-açúcar do Brasil.

Estou falando de Alagoas, Juca.

Todos os jogadores que citei passaram pelo futebol alagoano.

É bem possível que você nunca tenha ouvido falar deles.

Mas isso não tem a menor importância.

Eu ouvi. Alguns eu vi jogar.

Eu e milhares de alagoanos.

Que nunca vamos ser campeões brasileiros.

Que nunca vamos disputar uma Libertadores.

Não porque não temos bons jogadores. Temos muitos e bons. Tem um deles que fez gol no todo poderoso Barcelona e decidiu o título do Campeonato Fifa Interclubes.

Tem uma delas que foi escolhida por três vezes seguidas a melhor jogadora do mundo.

Nós nunca vamos ser campeões brasileiros, Juca, porque somos o segundo menor estado do Brasil, com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e com a segunda maior produção de cana-de-açúcar do Brasil.

Mas a beleza do futebol é que você nem sempre precisa ser campeão.

Basta ganhar vez ou outra de algum desses times do Clube dos Treze.

Pra fazer alguma justiça histórica. Nem que seja somente dentro de um campo de futebol. Nem que seja por míseros noventa minutos.

Por isso, meu caro Juca, não é "uma vergonha" o CSA ganhar do Santos em plena Vila Belmiro.

Pelo contrário.

É uma beleza!

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